terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Modernismo Português 1890 A 1950

Segundo Rui Mário Gonçalves as obras modernas realizadas no século xx resultaram essencialmente da vontade dos artistas. No entanto, a liberdade interior dos artistas deste século apela para a liberdade de cada uma das pessoas que são o seu público. E são os artistas que formam o seu público e deste modo este encontra de modo fecundo a sua aproximação com as obras, tendo em conta sempre a personalidade dos seus autores.
Segundo este mesmo autor o público sabe instintivamente que a sociedade pode ditar os conteúdos, fornecer os materiais e condicionar os meios de comunicação, mas o artista encontra eficácia na fusão dos conteúdos e expressão e cada artista tem o seu modo próprio de evoluir.

Este modo de compreensão das obras de arte deste período histórico não é completo mas é claramente imprescindível. A vontade de criar uma obra de arte em Portugal merece-nos uma atenção especial por dois motivos distintos mas simultâneos: ser detentor de uma enorme vontade de criar pois a sociedade portuguesa tem a tendência de as rejeitar logo que elas surgem; a existência de uma clara distância entre o público e a arte, distância que tem vindo a diminuir pela insistência da própria produção artística.
A falta de entendimento da arte moderna pelo público português não é pela falta da sua explicação mas sim pela falta de consciência da necessidade da arte e o desconhecimento das tradições da expressão plástica no nosso país e a falta de aproximação e observação atenta das obras produzidas. As obras de arte ensinam a olhar, umas através das outras. Desta forma não só se conhecem as obras de um modo global como se compreende mais profundamente as de um artista ao longo da sua vida.Através desta observação atenta pode-se reconhecer o seu tipo de organização psicológica e assim permite ao observador contemplar as obras de um modo pleno e activo, permite reconhecer mais facilmente o cromatismo, o sentido de proporções, as opções temáticas e assim compreender melhor a expressão artística de cada um dos artistas observados. O acesso ao estilo de cada um dos artista através da sua pintura torna mais fácil e mais emocionante. Não podemos esquecer que os artistas muitas vezes entre-cruzam as suas vidas e estilos e este facto permite também compreender melhor o sentido visual do pensamento contemporâneo.
  
Desenvolveu-se desde a última década do século XIX até aos anos 50 do século XX.
É um movimento influenciado pelas correntes estéticas europeias como o Futurismo (1), Expressionismo (2), Cubismo (3), Dadaísmo (4), Surrealismo ( 5) entre outros. 
Neste período houve um rompimento com o passado assumindo um carácter anárquico e irreverente expresso nas obras de carácter nacionalista um espírito crítico, irónico, questionando situações sociais, culturais e políticas conservadoras e que se demonstravam ligadas à extrema-direita.
A arte Portuguesa assume as características de uma publicação que marcou a modernidade portuguesa a revista “Orfeu”, nasce portanto um movimento absolutamente português o Orfísmo. Neste movimento participam os escritores como Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros. Esta última personalidade era multifacetado e portanto, para além de escritor foi, desenhador, cineasta, dramaturgo e pintor.
O Modernismo Português está dividido em três partes: o Orfísmo, o Presencismo e o Neo-Realismo.

O Orfísmo foi criado pelos autores da revista Orfeu (Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros), sendo responsáveis pelo acordar dos portugueses para o Modernismo Europeu e com o rompimento com as ideias conservadoras. Neste movimento encontramos a primeira geração do modernismo português é constituída pelos pintores Futuristas Amadeu de Souza-Cardoso, Santa Rita e Almada Negreiros, o naturalista José Malhoa, os Modernistas Diogo Macedo e Eduardo Viana.

O Presencismo foi criado pelos autores da revista Presença (José Régio, Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões) que procuram formas estéticas sustentadas pela originalidade, personalidade e autenticidade. Neste movimento encontramos a segunda geração do modernismo português, Dórdio Gomes (de pincelada e cromatismo expressionista e cubista), Abel Manta (naturalista, pós-impressionista de influência cézanniana), Mário Eloy (construtivista volumétrico de influência cézanniana, da cor matérica de Van Gogh, do desenho neoclássico de Picasso, do expressionismo lírico de Karl Hofer), Diogo Macedo e ainda Almada Negreiros (construtivistas e expressionistas). Este movimento, apesar de não romper com as ideias da geração anterior, aprofunda as discussões sobre as novas formas de expressão internacionais que continuaram a surgir neste período e Portugal.

O Neo-Realismo é o movimento que combate o fascismo, defende a crítica combativa, reformadora. Este movimento está próximo do Realismo no Brasil. Tem como objetivo tirar as pessoas da passividade e acordá-las para a nova realidade. Neste Movimento Neo-Realista encontramos António Dacosta, António Pedro (de raiz romântica); no do Abstracionismo foi o seu expoente Maria Helena Vieira da Silva; no do Surrealismo Mário Cesariny, Moniz Pereira, Fernando de Azevedo e Vespeira.


É importante referir que todos os pintores Modernistas possuem um conjunto de características comuns:
  •  Desrespeito pelos padrões sociais estabelecidos;
  • Assumir a liberdade de expressão como ferramenta fundamental;
  • Negação do passado estético, isto é, o padrão clássico e estático na pintura;
  • Personalização das temáticas utilizadas;
  • Utilização das composições dinâmicas e representação da velocidade;
  • Gosto pela apresentação do imprevisível e do insólito;
  •  Representação das emoções verdadeiramente vividas e não do falso sentimentalismo;
  • Utilização de uma linguagem direta e quotidiana;
  • Procura da autenticidade e da originalidade;
  • Interesse pela vida espiritual e pelos estados e alma; 
  • Valorização do humor e da ironia.

(1)   FUTURISMO
Foi um movimento artístico e literário que surgiu em França em 1909. Os artistas deste movimento rejeitavam os conceitos e os valores conservadores do passado.
As obras futuristas estão cheias de movimento e assentam na velocidade proporcionada pelo desenvolvimento tecnológico do final do século XIX e inicio do século XX.
Foi neste movimento que a maior parte dos outros movimentos posteriores se fundaram e inspiraram. O Futurismo foi explanado principalmente pelo cubismo e pelo Abstracionismo.
Na pintura o dinamismo, a deformação e o imaterial são representados através da cor com tons vivos, do contraste e da sobreposição de imagens e objetos no espaço, proporcionando assim a perceção do seu movimento como consequência da ação do homem sobre eles. Afirma-se ainda pela contínua interpretação formal sendo que a aparência dos objetos não acaba no seu contorno aparente. O Pintor Futurista quer captar a velocidade descrita no espaço pelo objeto e não no objeto e si mesmo.

Caraterísticas principais deste movimento na Europa, nos EUA e em Portugal:  


  • Valorização da modernidade e evolução tecnológica em desfavor da tradição e do moralismo conservador; Comunicação feita principalmente através da propaganda;
  • Uso constante de palavras com sonoridade “onomatopeias” que imitam ruídos, vozes, sons de objetos tanto na poesia quanto na pintura;
  • Uso de fragmentação das frases, assim como na pintura, como forma de representação da velocidade;
  • Utilização de cores contrastantes e vivas, sobreposição de imagens, traços e deformações de modo a representar e a reforçar a ideia de movimento e dinamismo na pintura

(2)   EXPRESSIONISMO
    Foi um movimento que se expressou em todas as formas artísticas. Surgiu na Alemanha no princípio do século XX. Os artistas deste movimento rejeitavam os conceitos e os valores conservadores do passado.
As obras futuristas estão cheias de movimento e assentam na velocidade proporcionada pelo desenvolvimento tecnológico do final do século XIX e inicio do século XX.
As obras Expressionistas eram sobretudo a representação ou exteriorização de uma reflexão individual, intuitiva e subjetiva, isto é, são a representação do mundo interior e personalizado do pintor.
Este movimento foi, também, uma forma de resposta contraditória de alguns movimentos do final do século XIX como, o impressionismo e o naturalismo, mas foi especialmente uma resposta contra o seu carácter positivista. Distanciou-se do Realismo porque não estava interessado na idealização das realidades mas sim na apreensão da perceção de cada um dos sujeitos que as viviam. O Expressionismo era veemente anti-romântico e a este nível aproximava-se do realismo ao capturar os seus objetos de representação.

    Caraterísticas principais deste movimento na Europa, nos EUA e em Portugal:

  • Cores fortes e ou violentas;
  • Utilização de processos que reforçam a noção de dinamismo;
  • Representação da reflexão sobre os sentimentos e o mundo interior;
  • Transmissão de forma clara e forte das emoções e dos sentimentos mais profundos do artista sem que este se preocupasse com a possível reação do público.

    (3)   CUBISMO 


Foi um movimento espano e franco e que se expressou nas Arte Plásticas através de Pablo Picasso e George Braque porque foram os seus fundadores em 1907 e, também, os seus expoentes maiores. Esta corrente artística teve como inspiração as máscaras africanas e a obra do pré-cubista Paul Cézanne.
O Cubismo expressou-se também na literatura e poesia.
    Caraterísticas principais deste movimento na Europa, nos EUA e em Portugal: 
  • Utilização frequente de monocromias e cores austeras passando pelo cinza, branco e preto, ocres apagados e castanhos suaves;
  • Utilização de formas geométricas básicas para representar formas da natureza;Representação num só plano de todas as partes de um objeto, isto é, a sua dimensão numa superfície bidimensional; 
  • Representação dos objetos como se o artista se movimentasse ao redor dele vendo-o e registando-o em ângulos sucessivos, assim como, de cima para baixo e vice versa, da esquerda e da direita e vice versa, dando a ver, portanto, todos os planos e volumes num só plano; 
  • Descomprometimento total com a representação da aparência realista das coisas.
    (4)   DADAÍSMO 
     Movimento que se desenvolveu nos Estados Unidos e na Europa a partir de 1915.
    Representa na Arte a instabilidade social e cultural provocada pela Grande Guerra e era um movimento contra o academismo instalado e ligado ao sistema político vigente, assim como ao mercantilismo e valores sociais estabelecidos.
    Este movimento foi considerado pelos críticos de arte como Anti.Artístico. Surgem então as seguintes expressões performances teatrais, exposições escandalosas pela utilização de objetos, comuns do quotidiano e ou ditos banais, transformados em obras de arte, descontextualizando-os da sua óbvia função social e cultural.
    Este movimento está. tal como o Orfísmo, ligado a uma Revista que divulga o "Manifesto Dadaísta" e que foi publicado em 1918. Este Manifesto teve um papel fundamental no surgimento do Movimento Surrealista na década de 20, assim como, no surgimento de outros movimentos como: Arte Pop, Arte Cinética, Fluxus, e ainda, a Arte Conceptual, Happenings e Performances;

Caraterísticas principais deste movimento na Europa, nos EUA e em Portugal:


  • Utilização  de fotomontagens oníricas;
  • Incorporação de materiais diversos;
  • utilização de elementos mecânicos, eletrónicos, elétricos e lumínicos;
  • Utilização de inscrições humorísticas, expressões burlescas e ridículas.

(5) SURREALISMO
O Surrealismo é, tal como outros movimentos já referidos, um movimento artístico e literário que surge nos anos 20, entre as duas "Grandes Guerras".

Este movimento reúne artistas anteriormente ligados a outros movimentos modernistas e de vanguarda como o Dadaísta e ganhou grande dimensão internacional.
 A expressão Surrealismo supõe-se ter sido criada por uma jovem cubista e poetisa de nome Apollinaire (1886-1918) em 1917. Esta artista foi considerada a precursora deste movimento na Europa.
O grupo surrealista português de Lisboa surge em 1948 e faziam parte dele tanto escritores, poetas, críticos e historiadores, artistas das diversas áreas, personalidades que passo a referir: António Pedro (1909-1966) encenador, escritor e artista plástico; Cândido Costa Pinto (1911-1976) caricaturista, ilustrador e artista plástico; Vespeira (1925-2002) pintor; Fernando Azevedo (1923-2002) critico de arte e pintor; Alexandre O'Neill (1924-1986) fundado do movimento surrealista português, escritor, publicitário, poeta e pintor; António Domingos (1920-2004) pintor português e, também, fundador do surrealismo português; José-Augusto França, nasceu em 1922, é crítico de arte e historiador; Mário Cesariny (1923-2006) poeta e pintor.
Em Portugal os Surrealistas marcaram a viragem do gosto estético através das suas obras que eram revolucionárias e exaltantes na apresentação de um imaginário pictórico  e cultural absolutamente novo. Este novo mundo estático foi apresentado ao meio cultural português através das exposições realizadas nos anos 49 e 50.
Esta mudança marca o surgimento da Arte Contemporânea em Portugal.

Caraterísticas principais deste movimento na Europa, nos EUA e em Portugal:


  • Combinar conceitos diversos numa só obra como, o representativo, o abstrato, o irreal e o inconsciente existente no mundo dos sonhos;
  • Utilizar frequentemente a colagem e a escrita automática;
  • Libertarem-se da lógica e do pensamento racional, da consciência do quotidiano;
  • Rejeitarem os valores burgueses defendidos pela sociedade da época como: a pátria, a família, a religião, o trabalho e a honra.
  • Utilizarem o humor, o sarcasmo e a contra-lógica dos sonhos:
  • Subverterem  valores como o bom gosto e o decoro;
  • Exagerarem o mundo e restaurarem os poderes da imaginação sem qualquer limite;
  • Consagrarem a poética da alucinação e a ampliação da consciência do eu profundo através do impulso criativo despejado sobre a obra plástica.


Poemas de 1982

Sorriso!
Movimento facial
com milhares de anos!
O primeiro gesto de afeto humano!
O Homem ao acordar para a "vida"...
Sorriu...
Será que sabia o que fazia?
Claro que não...
Pois naquele tempo...
Espelhos não existiam...
Existia sim,
A crueza de uma Terra Virgem...
Por descobrir!
A simplicidade de um Sol Nascente...
Todos os dias...
Disponível no horizonte sem "concreto"!
Um luar e um céu...
Poderosamente estrelado!
Um amanhã sempre surpreendente.
Hoje,
Sim Hoje?...
Existem espelhos...
Mas, não sorrimos!?
Existem estrelas,
Mas, não as vemos!?
As nossas lágrimas cegam-nos...
Impedem-nos de "ver"...
O sorriso, o belo...
O sonho de disfrutar
de um belo sorriso...
Mesmo que seja apenas num sonho!

Manuela Frade, 1982.

Poemas de 1982

Ser jovem e incompreendido!

Chorar
Sem lágrimas...
Trabalhar sem nada receber...
Lutar para nada ganhar...
Sangrar sem sangue escorrer...
Enfim,
Estar no vazio
Sem poder gritar,
Sem poder...
Qualquer coisa dizer...
Até pensar!
Vive-se num mundo cão.
Temos que assim viver!
Digo, subreviver...
Numa Liberdade mentirosa,
Por nos diz que,
"o sonho, comanda a vida"...
Mentira!
A Dor, comanda a vida...
Com ela temos que aprender,
A viver,
A Pensar,
A Sonhar e a lutar...
Por uma liberdade menos mentirosa!
Incompreendido por "ser" ...
Ser Jovem!

Manuela Frade, 1982.

Poemas de 1982

DILEMA!

Estar só!
Solidão dentro de nós,
Amparo desamparado,
Calor regelado,
Corrente de mar,
Sonho...
Belo mas difícil,
Para os que tentam
estar acompanhados...
Ser olhados,
Respeitados,
Sinceramente Amados,
Ser lembrados,
Serem elementos do "natural criado",
Por mãos de um artista desconhecido
jamais lembrado!
Dilema...estar só apesar de acompanhado!

Manuela Frade, 1982.

Poema aos que não sabem sorrir! (1982)

Um Sorriso!
Rende muito...
Enriquece quem o recebe...
Mais ainda quem o oferece!
Perdura para sempre...e...
Ninguém pode viver sem ele!
 Sem ele...
Suas almas esmorecem e morrem...
O Sorriso é o SOL da alma!
É um sinal vivo...
De um amizade profunda!
Um sorriso...
Tem mais e mais valor,
Cada vez quem alguém o oferece...
Sempre que se dá um sorriso,
Dá-se uma razão para se viver!
Ninguém precisa mais de um sorriso,

Que aquele que não sorrir!

Manuela Frade, 1982.

Poemas de 1982

AFINAL QUEM SOU EU?

Afinal quem sou eu?...
Apenas sou,
Um ser,
Como milhares de seres,
Multi-celulares...
Pulando, saltando...
De um lado para outro lado,
Sem saber muito bem porquê!
Sem saber bem o que fazer...
A sua verdadeira função...
Sem articulação...ou melhor,
Com articulações demasiadas...
Muito complicadas!
Que confusão...
Mas o que se pode fazer?...
O "homem" é assim,
Eu também assim sou!
Será que Jesus Cristo também...
Ele também é assim?...
Espero que não,
Pois assim,
Ninguém...
Ninguém o entenderá!

Manuela Frade, 1982.

Poemas de 1982

VIVER!

Sentir,
Uma criança sorrir,
Um olhinho a brilhar,
Um coração a trabalhar,
Uma mão a amassar o barro...
A argila...
Nela uma forma começa a nascer!
A Vida!
O Amor!
A Alegria!
A Amizade!
Enquanto a mão massa o barro...
A argila...
Tudo isto aumenta dia para dia!
Como  é bom amassar...esculpir...pintar!
Como gosto de me dar...dedicar...amar.
Através da arte eu deixo o meu ser,
O meu coração trabalhar!

Manuela Frade, 1982.
(Publicado no Jornal de Estarreja a 20/8/82)

Poemas de 1982

Viver!
O dia nasce,
o sol brilha...
Há vida!....
Vida?
Vida...
Eu quero viver,
Quero sentir o sangue quente,
correr em minhas veias!
Enquanto o sinto passar,
tudo brilha...
Os pássaros voam...
As crianças brincam...
Os velhos sorriem...
Os pobres caminham...
Enfim,
O ser humano que existe
em mim...é apenas
Mulher,
Princípio,
Meio e Fim,
Porque o Eterno Amor,
Existe e corre em mim!
Assim devia ser sempre
A Vida!

Manuela Frade, 1982.